Conversa Inicial!

"Caneca da Liberdade " é um blog destinado a área de História e a todos aqueles que amam a liberdade e o livre pensar!
Simbolicamente procuro homenagear dois homens que procuraram liberdade politica e economica para o Brasil:
Frei Caneca
, revolucionário e também professor. Um homem que os próprios carrascos recusaram a executar;
Cipriano Barata, baiano, formado em medicina, jornalista, professor e revolucionário.

Um homem que lutou em várias revoltas contra Portugal e que ousou discursar contra o dominio português no Brasil nas Cortes de Lisboa.

Caneca de conhecimentos que podem levar a liberdade! Divirtam-se!

terça-feira, 16 de abril de 2013

Os povos indígenas e a Educação Escolar: 1ª Parte

A escola entrou na comunidade indígena como um corpo estranho,
que ninguém conhecia. Quem a estava colocando sabia o que queria,
mas os índios não sabiam, hoje os índios ainda não sabem para
que serve a escola. E esse é o problema. A escola entra na comunidade
e se apossa dela, tornando-se dona da comunidade, e não a
comunidade dona da escola. Agora, nós índios, estamos começando
a discutir a questão (KAINGANG apud FREIRE, 2004:28).


   A escola para índios no Brasil começa a se estruturar a partir de 1549, quando chega ao território nacional a primeira missão jesuítica enviada de Portugal por D. JoãoIII. Composta por missionários da Companhia de Jesus e chefiada pelo padre Manuel da Nóbrega, a missão incluía entre seus objetivos o de converter os nativos à fé cristã.

   No processo de catequização, os missionários jesuítas procuraram antes se aproximar dos indígenas, para conquistar sua confi ança e aprender suas línguas. Esses primeiros contatos entre jesuítas e índios ocorreram ora em clima de grande hostilidade,ora de forma muito amistosa1. Segundo Leonardi (1996), quando o índio se recusava a trabalhar ou se revoltava, opondo resistência ao processo de escravização (completa ou parcial), ele era duramente perseguido e reprimido.2

   Os índios que ofereciam resistência eram vistos como selvagens e embrutecidos, precisando ser pacificados. A resistência à escravização levou a batalhas sangrentas com os colonizadores ao longo de todo processo de ocupação do território brasileiro3.

   Em decorrência disso os africanos acabaram por se tornar o principal contingente a fornecer força de trabalho escrava a partir do segundo século da conquista.

   A princípio, para ensinar os índios a ler, escrever e contar, bem como lhes inculcar a doutrina cristã, os missionários jesuítas percorriam as aldeias em busca, principalmente, das crianças. Por não disporem de instalações fixas e próprias para o ensino, essas missões foram chamadas de volantes.

   Aos poucos foram se definindo dois ambientes distintos onde os jesuítas ensinavam: as chamadas casas - para a doutrina dos índios não batizados - e os colégios, que abrigavam meninos portugueses, mestiços e índios batizados. Nos colégios a educação tinha um caráter mais abrangente e estava voltada para a formação de pregadores que ajudariam os jesuítas na conversão de outros índios (RIBEIRO, 1984:127).

   Mas esses ensinamentos, impostos e distantes da realidade dos nativos, não produziram mudanças no seu modo de vida, da forma direta e com a rapidez e facilidade que esperavam os portugueses. Bastava que eles voltassem ao convívio com outros índios que, mesmo aqueles que eram batizados, retornavam aos seus costumes e crenças.

  1 A população indígena brasileira nessa época era bastante diversa; estima-se que existiam aproximadamente 10 milhões
de índios e cerca de 1.200 línguas diferentes faladas por grupos étnicos com costumes e tradições próprios.
As diferenças no tratamento dispensado pelos jesuítas aos povos nativos eram proporcionais à resistência que os
mesmos ofereciam ao processo de escravização.
2 Um exemplo seria a violência praticada contra os índios Tremembé, no século XVII; todavia, a expedição militar que
foi enviada para reprimi-los foi chamada de “atividade de pacifi cação” (LEONARDI, 1996)
3 Por exemplo: Confederação dos Tamoios (1555-1667), a Guerra dos Aimoré (1555-1673), a Guerra dos Potiguara
(1586-1599), o Levante Tupinambá (1617-1621), a Confederação Cariri (1686-1692), a Guerra dos Manaus
(1723-1744) e a Guerra Guaranítica (1753-1756).
 

   Na ótica dos padres jesuítas, o contato com os colonos ocidentais não trazia bons exemplos morais e religiosos para os índios, porque era comum encontrar entre aqueles criminosos cumprindo pena de degredo. Muitos deles envolviam-se com os índios a ponto de se converterem a seus modos de vida. Mas os colonos, sobretudo, preferiam ter os índios como mão-de-obra para serviços domésticos ou para trabalhar em suas fazendas a vê-los estudando.

   Como saída para esse estado de coisas, os jesuítas recorreram ao aldeamento, procedimento já utilizado em outras colônias portuguesas e que consistia na criação de grandes aldeias próximas das povoações coloniais para agrupar índios trazidos de suas aldeias no interior. Nelas os índios passavam a viver sob as normas civis e religiosas impostas pelos padres missionários, sem nenhum contato com o mundo externo a não ser quando esse atendesse a algum interesse dos jesuítas.

   Os aldeamentos assumiam também a função de negar valor às culturas indígenas e impor uma nova ordem social. Nesse sentido, muitos aldeamentos propunham a convivência entre povos diferentes e estimulavam casamentos interétnicos. O ensino praticado centrava-se na catequese, sendo totalmente estruturado sem levar em consideração os princípios tradicionais da educação indígena, bem como as línguas e as culturas desses povos. Segundo Freire (2004:23):

Quando a escola foi implantada em área indígena, as línguas, a tradição oral, o saber e a arte dos povos indígenas foram discriminados e excluídos da sala de aula. A função da escola era fazer com que estudantes indígenas desaprendessem suas culturas e deixassem de ser indivíduos indígenas. Historicamente, a escola pode ter sido o instrumento de execução de uma política que contribuiu para a extinção de mais de mil línguas.
Fonte: http://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-diversidade/RELAÇÕES%20ÉTNICAS/WEBDOCUMENTOS/educacao%20escolar%20indigena....pdf

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