que ninguém conhecia. Quem a estava colocando sabia o que queria,
mas os índios não sabiam, hoje os índios ainda não sabem para
que serve a escola. E esse é o problema. A escola entra na comunidade
e se apossa dela, tornando-se dona da comunidade, e não a
comunidade dona da escola. Agora, nós índios, estamos começando
a discutir a questão (KAINGANG apud FREIRE, 2004:28).
A escola para índios no Brasil começa a se estruturar a partir de
1549, quando chega ao território nacional a primeira missão jesuítica enviada
de Portugal por D. JoãoIII. Composta por missionários da Companhia de Jesus e chefiada
pelo padre Manuel da Nóbrega, a missão incluía entre seus objetivos o de converter os
nativos à fé cristã.
No processo de catequização, os missionários jesuítas procuraram
antes se aproximar dos indígenas, para conquistar sua confi ança e aprender suas
línguas. Esses primeiros contatos entre jesuítas e índios ocorreram ora em clima de grande
hostilidade,ora de forma muito amistosa1. Segundo Leonardi (1996), quando o índio se recusava a trabalhar ou se revoltava, opondo resistência ao processo de
escravização (completa ou parcial), ele era duramente perseguido e reprimido.2
Os índios que ofereciam resistência eram vistos como selvagens e
embrutecidos, precisando ser pacificados. A resistência à escravização levou a
batalhas sangrentas com os colonizadores ao longo de todo processo de ocupação do
território brasileiro3.
Em decorrência disso os africanos acabaram por se tornar o
principal contingente a fornecer força de trabalho escrava a partir do segundo século da
conquista.
A princípio, para ensinar os índios a ler, escrever e contar, bem
como lhes inculcar a doutrina cristã, os missionários jesuítas percorriam as aldeias
em busca, principalmente, das crianças. Por não disporem de instalações fixas e próprias
para o ensino, essas missões foram chamadas de volantes.
Aos poucos foram se definindo dois ambientes distintos onde os
jesuítas ensinavam: as chamadas casas - para a doutrina dos índios não batizados - e
os colégios, que abrigavam meninos portugueses, mestiços e índios batizados. Nos
colégios a educação tinha um caráter mais abrangente e estava voltada para a formação
de pregadores que ajudariam os jesuítas na conversão de outros índios (RIBEIRO,
1984:127).
Mas esses ensinamentos, impostos e distantes da realidade dos
nativos, não produziram mudanças no seu modo de vida, da forma direta e com a rapidez e
facilidade que esperavam os portugueses. Bastava que eles voltassem ao
convívio com outros índios que, mesmo aqueles que eram batizados, retornavam aos seus
costumes e crenças.
1 A população indígena brasileira nessa época era bastante
diversa; estima-se que existiam aproximadamente 10 milhões
de índios e cerca de 1.200 línguas diferentes faladas por grupos
étnicos com costumes e tradições próprios.
As diferenças no tratamento dispensado pelos jesuítas aos povos nativos
eram proporcionais à resistência que os
mesmos ofereciam ao processo de escravização.
2 Um exemplo seria a violência praticada contra os índios
Tremembé, no século XVII; todavia, a expedição militar que
foi enviada para reprimi-los foi chamada de “atividade de pacifi
cação” (LEONARDI, 1996)
3 Por exemplo: Confederação dos Tamoios (1555-1667), a Guerra dos
Aimoré (1555-1673), a Guerra dos Potiguara
(1586-1599), o Levante Tupinambá (1617-1621), a Confederação
Cariri (1686-1692), a Guerra dos Manaus
(1723-1744) e a Guerra Guaranítica (1753-1756).
Na ótica dos padres jesuítas, o contato com os colonos ocidentais
não trazia bons exemplos morais e religiosos para os índios, porque era comum
encontrar entre aqueles criminosos cumprindo pena de degredo. Muitos deles envolviam-se
com os índios a ponto de se converterem a seus modos de vida. Mas os colonos,
sobretudo, preferiam ter os índios como mão-de-obra para serviços domésticos ou para
trabalhar em suas fazendas a vê-los estudando.
Como saída para esse estado de coisas, os jesuítas recorreram ao
aldeamento, procedimento já utilizado em outras colônias portuguesas e que
consistia na criação de grandes aldeias próximas das povoações coloniais para agrupar
índios trazidos de suas aldeias no interior. Nelas os índios passavam a viver sob as
normas civis e religiosas impostas pelos padres missionários, sem nenhum contato com o mundo
externo a não ser quando esse atendesse a algum interesse dos jesuítas.
Os aldeamentos assumiam também a função de negar valor às culturas
indígenas e impor uma nova ordem social. Nesse sentido, muitos aldeamentos
propunham a convivência entre povos diferentes e estimulavam casamentos
interétnicos. O ensino praticado centrava-se na catequese, sendo totalmente estruturado
sem levar em consideração os princípios tradicionais da educação indígena, bem como as
línguas e as culturas desses povos. Segundo Freire (2004:23):
Quando a escola foi implantada em área indígena, as línguas, a tradição oral, o saber e a arte dos povos indígenas foram
discriminados e excluídos da sala de aula. A função da escola era fazer com que estudantes indígenas desaprendessem suas culturas e deixassem de ser indivíduos indígenas. Historicamente, a escola pode ter sido o instrumento de execução de uma política que contribuiu para a extinção de mais de mil línguas.
Fonte: http://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-diversidade/RELAÇÕES%20ÉTNICAS/WEBDOCUMENTOS/educacao%20escolar%20indigena....pdf
Fonte: http://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-diversidade/RELAÇÕES%20ÉTNICAS/WEBDOCUMENTOS/educacao%20escolar%20indigena....pdf
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