Conversa Inicial!

"Caneca da Liberdade " é um blog destinado a área de História e a todos aqueles que amam a liberdade e o livre pensar!
Simbolicamente procuro homenagear dois homens que procuraram liberdade politica e economica para o Brasil:
Frei Caneca
, revolucionário e também professor. Um homem que os próprios carrascos recusaram a executar;
Cipriano Barata, baiano, formado em medicina, jornalista, professor e revolucionário.

Um homem que lutou em várias revoltas contra Portugal e que ousou discursar contra o dominio português no Brasil nas Cortes de Lisboa.

Caneca de conhecimentos que podem levar a liberdade! Divirtam-se!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Cipriano Barata

  
       Batizado de Cipriano José Barata de Almeida, ele nascera em 1762, 26 de setembro, filho de um modesto tenente com uma brasileira, o que já significava, àquela altura, ascendência negra ou indigena, de mistura com português.

      Após fazer os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas, conseguiu juntar parcas economias, e aos vinte e quatro anos foi para a tradicional Universidade de Coimbra, Portugal, onde se formava a fina-flor da elite luso-brasileira.
       Lá, travou contato com aqueles que viriam a ser os principais quadros dirigentes do país: foi colega de José Bonifácio, de José da Silva Lisboa (futuro Visconde de Cairu), e de muitos outros que se tornariam barões, condes, marqueses, ministros...
       ...Barata estava na Europa, como estudante, ano de 1789, e recebeu de perto o impacto da Queda da Bastilha, a Revolução Francesa marcando o fim de uma era na história da humanidade.
      Ano seguinte, 1790, teve de voltar para a Bahia, pois seu pai falecera, deixando a familia em dificuldades.
      Trouxe na bagagem um diploma de Bacharel em Filosofia (na época, Philosofia), e os diplomas de habilitação em Medicina e em Matemática.
      Num país onde até a elite econômica era apenas semi-alfabetizada, seu destino já estaria traçado - seria um doutor, um privilegiado, um ideólogo do sistema. Mas, às vezes, determinadas pessoas parecem portadoras de uma "loucura", insensatez que as levam a comportamentos inteiramente diferentes de destinos pré-fabricados.   
      Barata tratou de abrir uma clínica médica em Salvador.
      Acontece que a medicina rendia-lhe muito pouco, financeiramente: clientes numerosos, mas a maioria não podia pagar, e formavam verdadeiras filas em sua porta. O lucro era outro: frequentava assim a plebe, percorrendo com gosto a Cidade Baixa, a Cidade Alta, Reconcâvo, sempre pelas boticas, quartéis, plantações, curando os enfermos, ouvindo-lhes as queixas. Para ajudar no orçamento doméstico, dava também aulas particulares, arranhava uns latins, ministrava gramática e aritmética.
      Cultivava com gosto sua biblioteca, clássicos da literatura, antigos gregos, além dos livros da moda: racionalistas franceses, empiristas ingleses, iluministas...
       Se nem a medicina nem as aulas particulares estavam bastando para o sustento, como fazer então?
       Foi aí que, num país essencialmente agrícola, Barata tornou-se lavrador. Longe de ser um grande proprietário de terras, ele arrendou um pedaço na sesmaria de Inácio Siqueira Bulcão (Barão de São Francisco), e passou a morar numa tosca cabana, pelejando a cana-de-açúcar. Moravam com ele seis escravos: Noé, Moisés, Isaías, Rafael, Custódia e Raquel, e o fato de estes terem nomes biblicos trouxe-lhe problemas com a Coroa Real. Num tempo em que o escravo era considerado coisa, e não gente, e as fazendas os possuíam às centenas, como gado, autoridades ficaram de orelha em pé para aquele lavrador branco que batizava com nomes de santos ou profetas os negros cativos.
       Em termos históricos... sua importância foi decisiva.
       Cipriano Barata teve capacidade de síntese para ser a grande liderança "radical" do processo da independência, e integra hoje a subalterna galeria dos vencidos, ao lado de Cunhambebe, Zumbi, Frei Caneca, Pedro Ivo, Antonio Conselheiro, João Cândido e tantos outros.
       Não se trata  - é bom que fique claro - de erguer novos mitos, outras estátuas, mas, justamente, demolir as idolatrias e restaurar o lugar das forças sociais, onde indivíduos podem ter fecundo papel criativo.
      Toda esta parafernália ufanista, que nos é legada desde 07 de setembro de 1822, precisa ser questionada.
       Portanto, não se trata mais de exaltar o nacional, e sim optar pelo popular. Para isso, a figura de Barata nos cai como uma luva, pois não se presta a manipulações de herói oficial, como Tiradentes, ambos aliás contemporâneos. Só que Tiradentes morreu, e Barata prosseguiu. Lutou na Conjuração Baiana, na República de 1817, fundou Comitê de Anistia, participou das Cortes de Lisboa, denunciou a precária Assembléia Constituinte de 1823, organizou a abdicação do imperador, envolveu-se em motins na Regência.  Consequentemente: foi o civil que mais conheceu prisões militares no Brasil, no dizer de um historiador. E ainda assim conseguiu a façanha de escrever seu famoso jornal Sentinela da Liberdade, até dos cárceres em que se encontrava.
       Mesmo assim, doutor em Filosofia, Matemática e Medicina, eleito deputado e candidato a senador várias vezes, encontrava tempo para fazer versos e músicas populares, e era visto sempre em companhia da "ralé".
        A lição essencial que Cipriano nos deixou: a História está não só para ser reescrita (passado), como para ser feita (presente), se possivel num breve e alegre futuro.


Fonte: Morel, Marco. Cipriano Barata, editora Brasiliense, 1986, págs. 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17.

Nota do blog: Cipriano Barata nasceu na cidade do Salvador, Bahia, em 26 de setembro de 1762. Faleceu a 1º de julho de 1838 em Natal, Rio Grande do Norte.
     
     
             
       

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