Extraído/adaptado de “Dez Freguesias da Cidade do Salvador” de autoria de Anna Amélia Vieira Nascimento. (Fundação Cultural do Estado da Bahia)
A cidade do Salvador, na baía de Todos os Santos, ou mais simplesmente Bahia, como era chamada pelos mais antigos habitantes, contava, nos meados do século XIX, dez freguesias urbanas, que passamos a indicar na ordem cronológica de sua criação:
· Sé ou São Salvador
· Nossa Senhora da Vitória
· Nossa Senhora da Conceição da Praia
· Santo Antônio Além do Carmo
· São Pedro Velho
· Santana do Sacramento
· Santíssimo Sacramento da Rua do Passo
· Nossa Senhora de Brotas
· Santíssimo Sacramento do Pilar, e
· Nossa Senhora da Penha
Freguesia, no sentido lato, significa o conjunto de paroquianos, povoação sob o ponto de vista eclesiástico, clientela. Freguesia no conceito em que está caracterizado neste estudo é um espaço material limitado, divisão administrativa e religiosa da cidade, onde estavam localizados os habitantes, ligados à sua igreja matriz. Tomavam parte em suas solenidades, ali realizavam seus batizados, casamentos e eram sepultados.
A divisão administrativa coincidia com a religiosa, que, na realidade, havia tomado a iniciativa dessa classificação primeira da cidade, adotada pelo poder governamental.
Para qualquer alteração nos limites das freguesias, era ouvida a mais alta autoridade da Igreja, que, por sua vez, baseava-se em informações dos vigários.
Existia, em cada freguesia, um grande laço emotivo que envolvia vigários e paroquianos, e entre estes e sua igreja matriz. Eram eles sempre contra qualquer alteração nos limites de suas paróquias, porque existia uma conscientização, misto de orgulho e bairrismo pela parte da cidade onde habitavam, ou pela estreita ligação aos oragos de suas matrizes, ou na participação em irmandades que nelas se instalavam. Daí ter sido tão combatida a ideia de aumentar-se a menor freguesia da cidade, a da Rua do Passo, quando começaram a preparar o projeto de lei, em 1861, que alargaria seus limites, trazendo para ela partes das freguesias da Sé, de Santana e de Santo Antônio Além do Carmo.
Constituía-se a freguesia no centro de muitas atividades de diferentes aspectos. Era, em primeiro lugar, o núcleo de atividades religiosas,naturais à sua própria concepção, dirigidas pelos párocos, tanto dentro da igreja como nas suas dependências, espalhando-se essas funções religiosas pelas ruas, através de procissões, dos viáticos, das extremas-unções, das visitas de santos às casas particulares. Funções políticas eram também inerentes às freguesias, pois nos seus consistórios reuniam-se as comissões a fim de compor ou rever as listas de qualificação eleitoral. As próprias eleições primárias se realizavam na Igreja Matriz. As atividades econômicas estavam representadas pelo direito e dever que tinha o pároco de registrar em livros para isso destinados, as terras, fazendas, engenhos, sítios ou chácaras chamados “roças”, situadas nos limites da cidade, donde as freguesias serem urbanas e rurais. Eram os Registros Eclesiásticos de Terras. Foram encontradas informações de que também nas igrejas matrizes eram organizadas as listas para aqueles que deveriam compor as Companhias das Guardas Nacionais. Tinham funções sociais, pelas festas religiosas que ali se realizavam, congregando grande parte da população da cidade, representada por todas as suas categorias do mais pobre ao mais rico. As atividades das irmandades também de sentido social, concentravam-se nas matrizes das freguesias. Rara era aquela igreja matriz que não contasse uma ou mais irmandades, filiadas aos seus padroeiros. E, finalmente, até mesmo função preventiva em favor da saúde dos seus habitantes, exercia a freguesia, pois nelas muitas vezes se vacinavam os cidadãos contra a varíola.
Fonte: Nascimento, Anna Amélia Vieira. Dez Freguesias da Cidade do Salvador: Aspectos Sociais e Urbanos do Século XIX. Salvador, FCEBa./EGBa., 1986. p. 28, 29, 30
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